segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Paraense elege político escolarizado

população votante do Pará tem um dos piores índices de baixa escolaridade do País, no entanto, pesquisa recente mostra que os representantes escolhidos por esse eleitorado estão entre os que têm os maiores percentuais de acesso ao nível superior do País. Os dados levantados pelo jornal Correio Braziliense, através da análise do perfil educacional de cada parlamentar nos sites oficiais das assembléias legislativas, aponta que 68,3% dos 41 deputados estaduais do Pará têm graduação em alguma faculdade.
A marca garante à Assembléia Legislativa paraense a oitava posição em relação às assembléias dos outros Estados. Os deputados estaduais do Pará só perdem para os do Rio Grande do Norte (83,3%), Piauí (76,6%), Minas (74%), Ceará (73%), Paraíba (71,7%), Bahia (69,2%) e São Paulo (69,14%). O sociólogo Marco Antônio Moreira, do Núcleo de Políticas e Estratégias da Universidade de São Paulo, afirma ser muito complexa essa correlação entre o nível de escolaridade do eleitorado paraense e o dos seus representantes na Assembéia. Para ele, na formação política, o nível de escolaridade é o que menos tem influência na decisão do eleitor.
'São casos da nossa cultura política, que é muito recente, iniciada após a redemocratização brasileira, há 24 anos. Independente da formação do parlamentar, ele é apenas um pára-choque, um porta-voz, porque os projetos são preparados pelos ‘lobs’. São eles quem direcionam os deputados sobre o que deve ser defendido. O conhecimento cabe as assessorias políticas, que são quem realmente montam os projetos', destaca.
Apesar da oitava posição no ranking, Marco Antônio alega que a alta escolaridade dos deputados não reflete maior qualidade nas ações parlamentares. 'Se nós temos deputados com nível intelectual tão alto, era de se esperar também uma alta qualidade nos projetos produzidos na Casa. Mas não vemos nenhuma referência', explica o sociólogo, completando que a constatação não serve nem para definir um padrão moral. 'A corrupção é muito comum entre os que têm alta escolaridade. É só olhar os rombos milionários no sistema econômico. Não necessariamente o bandido é negro e semi-analfabeto. Ele pode está muito bem vestido e segurando um diploma'.
Na Assembléia- Dos 41 deputados que compõe a Assembléia Legislativa do Pará, 13 não identificaram em seus perfis, no site oficial da Assembléia, formação de nível superior. Dentre estes parlamentares, está o líder do Governo na Casa, o deputado Aírton Faleiro (PT). Representante dos pequenos agricultores da Transamazônica, o parlamentar, de segundo mandato, que sempre esteve ligado a movimentos sociais como Fetagri (Federação dos Trabalhadores da Agricultura) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), não chegou sequer a concluir o primeiro grau primário.
'Parei na 4ª série, vim de uma família muito humilde de agricultores rurais, sempre tive que trabalhar para sobreviver e não tive oportunidade de estudar. Depois acabei me envolvendo com a luta sindicalista e a vida foi me levando para outros rumos. Eu acredito que o preparo técnico é importante, sou inclusive um defensor da busca pela qualificação, se puder conciliar é ótimo, mas acho que, na política este não é um fator condicionante. Muitas vezes nossa atuação está mais ligada à nossa capacidade de articulação e a proposição de idéias', justificou Faleiro.
Para ele se cercar de bons assessores técnicos é a saída mais freqüente para compensar a falta de escolaridade em qualquer eventualidade do mandato. 'Sou eu quem escreve os pronunciamentos, ajudei a criar programas federais, mas sempre procurei ter ao meu lado bons profissionais para me ajudar na parte técnica', afirmou.
O mesmo recurso é utilizado pela deputada Tetê Santos (PSDB). Com apenas o segundo grau completo, ela argumenta que também teve dificuldades de concluir os estudos. 'Eu vim da roça, faço parte de uma geração que teve muita dificuldade de ter acesso a educação formal. Comecei a estudar aos 16 anos e com muito sacrifício consegui terminar o 2º grau, mas acho que isso não significa que não tenha condições de representar o povo. Tanto que já fui prefeita e estou no meu quarto mandato como parlamentar. É claro que dificuldades a gente tem, mas o esforço e a dedicação superam isso', disse.
Mesmo entre os parlamentares com nível superior é praticamente um consenso de que apesar da contribuição qualitativa que a escolaridade pode oferecer ao debate no plenário, este não é um fator condicionante para o bom exercício do mandato.
'Eu acho que não é a escolaridade que vai definir uma boa atuação do deputado. É óbvio que todo mundo deve buscar o conhecimento como cidadania, mas na política, o fator diferencial é a formação social e a atuação de cada um. Acredito que a ética, o zelo com a coisa pública, assiduidade, e o respeito com a população são mais importantes na hora de avaliar um bom parlamentar', explicou o deputado do PPS, Arnaldo Jordy (PPS).
Na avaliação deles, a baixa escolaridade dos deputados está mais ligada ao contexto no qual a maioria da população paraense está inserida, do que a um possível reflexo das escolhas dos eleitores menos escolarizados. 'Isso mostra que o Legislativo é o retrato da sociedade que o elege. Não estaríamos em harmonia se fosse diferente. Seria até estranho, se num Estado com tantos iletrados tivéssemos apenas parlamentares com nível superior, não estaríamos de fato representando a população. Agora, isso não quer dizer que o conteúdo do trabalho fique prejudicado, tanto que a Assembléia daqui do Pará é uma das produtivas do país. A própria experiência de vida, em muitos casos, serve mais do que um diploma para exercício do mandato', opinou José Megale, cuja formação é de engenheiro agrônomo.
Com três graduações no currículo, Manoel Pioneiro, também compartilha a mesma opinião. 'A baixa escolaridade é um reflexo de um incentivo maior do poder público na educação', afirmou.
Fonte: O Liberal

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